O pátio da Procuradoria Geral de Justiça (PGJ) foi palco, na manhã desta sexta-feira (03/05), da Kitanda – Feira de Economia da Negritude. O evento, que celebrou o empreendedorismo da população negra local, resgatou as raízes e a identidade da cultura afro-brasileira. Além da venda de produtos de moda, decoração, beleza, literatura, culinária e produção intelectual, a feira contou com a participação do grupo D’Passagem que apresentou um repertório de samba reggae para os servidores e membros, até às 15h. “A feira é um processo de inclusão e de compreensão das diversidades. Ela significa abrir os espaços públicos para essa pluralidade e conhecer melhor as várias culturas”, declara o promotor de Justiça Hugo Porto, coordenador do Centro de Apoio Operacional da Cidadania (CAOCidadania) do Ministério Público do Ceará (MPCE).
Promovida pela Rede Kilofé de Economia de Negras e Negros do Ceará, a feira tem como objetivo destacar e fortalecer iniciativas de empreendedorismo da população negra. “Nós buscamos a autonomia e o fortalecimento econômico da população negra a partir dos seus próprios produtos e serviço. A população negra e indígena construiu esse país a todo custo e não conseguimos obter 1% do que a gente produz. Se somos 56% da população brasileira, as contas não estão batendo”, ressalta Patrícia Bittencourt, fundadora da Rede Kilofé.
A vendedora Aliciane Barros enaltece a oportunidade de expor e vender os produtos, por ser uma forma de contribuir para a difusão da cultura negra no Estado. “A gente está nesses espaços mostrando a nossa resistência, a nossa cultura e fomentando a economia do negro no Ceará. Esse é o nosso objetivo: mostrar que nós existimos, que temos um trabalho bonito e que esse trabalho não seja perdido no meio dessa globalização que acontece a nível mundial”, comenta a vendedora.
Patrícia Matos, cantora e cofundadora do grupo D’Passagem, trouxe uma releitura sonora dos blocos afro da Bahia e afirma que se apresentar significa marcar território. “Estar aqui é mostrar a nossa existência. A gente também trabalha com esse debate nas escolas e nas secretarias, através da percussão, através do conto que o canto trás. Conseguir pautar isso dentro do Ministério Público é muito importante”, alega a artista.
Para o servidor do CAOCidadania, Lindemberg Bezerra, a feira é uma oportunidade de dar espaço para empreendedores que não têm tanta visibilidade. “Terão outros eventos semelhantes e o intuito é abrir um espaço para debater sobre a questão étnica. A ideia é que a temática, a sonoridade e as discussões sobre igualdade racial façam parte do cotidiano da instituição”, afirma.
Projeto de Igualdade Racial
Por intermédio do CAOCidadania, O Ministério Público cearense lançou no dia 25 de março, dia da celebração da Data Magna no Ceará, o “Igualdade Racial – projeto para um Ceará sem racismo”. A iniciativa tem como objetivo combater o preconceito, levantar questões étnicas e promover uma maior participação social de negros, indígenas, quilombolas, ciganos, umbandistas e candomblecistas. Desde março, informações acerca destes povos estão sendo publicadas nas redes sociais do MPCE para garantir uma maior conscientização, além de ter uma programação cultural voltada para o público interno até junho desse ano.
De acordo com Hugo Porto, esse projeto busca “estreitar espaços e aproximar as pessoas para que compreendam melhor o sistema em torno das minorias”. O intuito é que, em junho, sejam discutidos temas como a superação do racismo e a questão da fraude em cotas raciais em concursos e em vestibulares. A partir destes debates, serão criados três produtos com um plano de aplicação. “A ideia é que a gente escute a universidade, os movimentos, o Sistema de Justiça e produza um produto final que seja aplicável”, explica o coordenador.
O projeto está sendo executado com a parceria da Coordenadoria da Diversidade e Inclusão Educacional da Secretaria de Educação do Estado do Ceará (Seduc); Coordenadoria do Patrimônio Cultural e Memória da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult); Núcleo de Africanidades do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Coordenadoria Especial de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial (CEPPIR), da Universidade Estadual do Ceará (UECE).