Projeto Vidas Preservadas promove capacitação para comunicadores no auditório da PGJ


20.10.18.Vidas.Preservadas.sO Ministério Público do Estado do Ceará, por meio do Projeto Vidas Preservadas, realizou neste sábado (20/10) uma capacitação voltada para comunicadores cearenses com o tema “Vida em Pauta: como tratar o suicídio na mídia”. O evento foi realizado no auditório da Procuradoria Geral de Justiça e reuniu jornalistas, radialistas, publicitários, blogueiros, youtubers, assessores de comunicação, professores e estudantes de cursos de Comunicação Social.

O promotor de Justiça Hugo Mendonça, coordenador do Centro de Apoio Operacional da Infância e Juventude e coordenador do Projeto Vidas Preservadas, abriu a capacitação agradecendo a presença de todos e destacando a importância dos comunicadores nessa luta em defesa da vida e da prevenção ao suicídio no Ceará. Ele ressaltou a importância da leitura da cartilha da Organização Mundial da Saúde dirigida a profissionais da mídia de como tratar do tema na imprensa. O material foi distribuído gratuitamente aos participantes. Em seguida, apresentou os dois palestrantes da manhã.

Autocuidado e cuidado com os outros

Os trabalhos foram iniciados com uma formação sobre “Autocuidado e cuidado com o outro: os afetos que nos protegem do suicídio”, dada pela professora do curso de Psicologia da Uece Alessandra Silva Xavier. Ela destacou o alto nível de estresse ao qual os comunicadores são submetidos no dia-a-dia, ainda mais num ambiente de muita cobrança, exigência por perfeição e vaidade.

A docente enfatizou a necessidade de se perceber as causas da ideação suicida, que normalmente é motivada pela desesperança e por uma dor emocional extrema. Esse quadro é agravado pela perda de conectividade, ou seja, quando não há apoio do Estado, da família e dos amigos. Entre os cuidados que podem contribuir para a proteção do indivíduos nesses casos, Alessandra listou os laços de amizade, ter com quem conta, apoio social, ser ouvido, confiar em si e na capacidade de resolver os problemas, esperança, políticas integradas de cuidados (saúde, educação, arte, cultura, esporte, trabalho, assistência), trabalhar as idealizações e a visão realista de si, ter razões para viver, cuidados clínicos eficazes.

Para lidar com uma pessoa que está com ideação suicida, a especialista recomenda uma comunicação adequada. Ela aconselha que o apoiador escute a história da pessoa, fique ao lado em silêncio se ela não quiser falar, não fale demais, não julgue, disponibilize-se, importe-se com a história dela, apresente alternativas e construa junto com ela uma saída para a situação de sofrimento.

Vida em pauta: como tratar o suicídio na mídia

Em seguida, o jornalista da Rede Globo André Trigueiro apresentou aos participantes um panorama do suicídio na história e na literatura médica. Ele é autor do livro “Viver é a Melhor Opção – A prevenção do suicídio no Brasil e no Mundo”, que traz dados sobre a prevenção e a incidência do tema, baseados em relatórios da OMS, do Ministério da Saúde e de entrevistas. O autor mostra que o suicídio é um problema de saúde pública que pode ser prevenido, com informação e debates que vençam o tabu.

Ao longo da palestra, Trigueiro defendeu a ideia de que é preciso falar sobre suicídio na mídia com responsabilidade, dando ao público informações relevantes sobre rumos e perspectivas para prevenir e superar os fatores geradores de sofrimento. “O tabu em torno do suicídio deve ser desafiado todo dia. A mídia tem um papel fundamental nisso porque presta um serviço de utilidade pública”, afirmou.

O jornalista destacou ainda que 90% dos casos de suicídio têm intercorrência com patologias de ordem mental, principalmente a depressão. Para ele, os veículos de comunicação podem abordar temas referentes a esses assuntos, mostrando ao público detalhes sobre essas doenças, como e onde as pessoas podem buscar ajuda. André Trigueiro chamou atenção para pautas relacionadas a grupos sociais vulneráveis ao suicídio, como os homossexuais, principalmente em regiões onde a cultura machista é mais acentuada; idosos, por conta da cultura da valorização da “eterna juventude”; e entre os próprios jovens, cercados por estímulos da felicidade, do prazer e do consumo desenfreados.

Ao final da palestra, o público ainda pode dialogar com o jornalista André Trigueiro, tirando dúvidas sobre os assuntos abordados e dando depoimentos sobre experiências pessoais e sociais sobre suicídio.

Vidas Preservadas

O Projeto Vidas Preservadas iniciou em abril de 2018 e tem como objetivo promover uma abordagem intersetorial do tema, além de traçar estratégias de atuação do MPCE pela prevenção do suicídio, com a colaboração de diversos órgãos e entidades parceiros e a realização de capacitações para os mais variados públicos, como psicólogos, profissionais de Segurança Pública, comunicadores e educadores. “O projeto traz duas afirmações fortes: nós precisamos falar sobre o suicídio e de políticas públicas efetivas de prevenção ao suicídio. Estas são nossas bandeiras porque os números desta prática vêm crescendo e hoje estão alarmantes. Em 2009, o Ceará era o nono estado em número de suicídio e, hoje, está em quinto lugar”, declarou o promotor de Justiça Hugo Mendonça, coordenador do projeto.

A Organização Mundial da Saúde estabeleceu esse ano a meta de reduzir em 10% os casos de mortes por suicídio até 2020. Ainda segundo a OMS, a cada 40 segundos, uma pessoa interrompe a própria vida. O número de óbitos autoprovocados é significativamente maior que aqueles causados por homicídios: 800 mil por ano, contra 470 mil. O problema é a segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos de idade. O Brasil ocupa a 8ª posição no ranking mundial.

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