George Legmann, 78 anos, é antes de tudo um sobrevivente. Nascido no campo de concentração de Dachau, no sul da Alemanha, em 1944, ele vivenciou o horror do nazismo logo nos primeiros dias de vida. Essa história de resiliência foi compartilhada nesta terça-feira (17/10) em palestra promovida pelo Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), no auditório da Procuradoria Geral de Justiça, em Fortaleza. O evento, que contou com a presença do procurador-geral de Justiça, Manuel Pinheiro, reuniu membros, servidores, estagiários e colaboradores do MPCE, além de estudantes e integrantes da comunidade judaica.
Durante a palestra “Relato de um Sobrevivente do Holocausto: Memórias e Direitos Humanos”, o público pôde conhecer um pouco mais sobre a trajetória de George e sua família. Ele foi um dos setes bebês que nasceram em Dachau. Antes de chegar ao local, no entanto, a família de George ainda passou por outros campos de concentração, sendo o de Auschwitz, na Polônia, o maior e mais conhecido. “Minha mãe era uma pessoa muito forte”, emocionou-se George, relembrando que a mãe, Elisabeta Török Legmann, conseguiu esconder a gravidez enquanto pôde, mesmo sendo submetida a tratamentos desumanos no campo de concentração.
Com o fim da segunda guerra, George, sua mãe, seu pai e uma de suas avós retornaram à Romênia, não sem antes passar por mais um susto. “Estávamos no último vagão de um trem que foi bombardeado por engano pela força aérea britânica. Somente o nosso vagão ficou inteiro”, recordou. Em 1947, a Romênia mergulhou em uma ditadura, o que motivou a saída da família de George para o Brasil em 1961. Desde então, ele vive em São Paulo e, com os olhos marejados, comentou sobre sua ligação com o Ceará. “Foi um professor cearense que me ajudou a ingressar na faculdade”.
Em sua fala, George Legmann reforçou ainda a importância da educação e do acesso à informação para que as próximas gerações saibam da existência do Holocausto. “Temos que cuidar da democracia, tendo a educação como ponto central, para que o holocausto nunca mais se repita”, pontuou.
Pronunciamentos
O evento foi aberto com a apresentação do músico Marcus Strozberg. Logo depois, formou-se a mesa de abertura. Representaram o MPCE o procurador-geral de Justiça, Manuel Pinheiro; o secretário-geral do órgão, promotor de Justiça Hugo Mendonça; o coordenador auxiliar do Centro de Apoio Operacional da Cidadania (Caocidadania), promotor de Justiça Hugo Porto; e o promotor de Justiça José Borges.
Também compuseram a mesa: o representante da Ordem dos Advogados do Brasil no Conselho Nacional dos Direitos Humanos do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Hélio Leitão Neto; o diretor-geral da Confederação Israelita do Brasil, Sérgio Napchan; o sobrevivente do Holocausto e palestrante do evento, George Legmann; o presidente da Sociedade Israelita do Ceará, André Fleishman; e o coordenador do Museu do Holocausto de Curitiba, Carlos Reiss.
O procurador-geral de Justiça, Manuel Pinheiro, destacou a importância da realização de um evento sobre o Holocausto. “Passamos por tempos difíceis em que relembrar o Holocausto é fundamental para que esses fatos não se repitam”, pontuou o PGJ, ressaltando que o Ministério Público surgiu para proteger os direitos humanos. Ao citar conflitos recentes, casos da guerra da Ucrânia e a crise atual na região da Palestina, Manuel Pinheiro reafirmou que o diálogo é essencial para a resolução desses e de outros conflitos. “Não percamos a esperança de um mundo melhor. Que o amor vença o ódio. Que a paz vença a guerra”, finalizou.
O secretário-geral do MPCE, promotor de Justiça Hugo Mendonça, reforçou que o evento desta terça-feira demonstra o que o Ministério Público quer passar para toda a sociedade brasileira. “Com essas ações, o MP, de forma muito enfática, reafirma que não deve se aceitar qualquer tipo de lesão aos direitos fundamentais de quem quer seja”, salientou.
O diretor-geral da Confederação Israelita do Brasil, Sérgio Napchan, parabenizou o MPCE pela iniciativa e ressaltou a parceria firmada com o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) para discutir a garantia dos direitos humanos e o combate ao discurso de ódio. “O Holocausto é uma ferramenta educativa para lidar com a intolerância”, complementou.
O presidente da Sociedade Israelita do Ceará, André Fleishman, reafirmou que o nazismo não teria existido sem a conivência de parte da sociedade. “Há uma linha tênue entre liberdade de expressão e discurso de ódio”, disse, acrescentando que, na sua visão, “só existe uma raça: a humana, sem quaisquer preconceitos por origem, sexo, cor e idade”.
O representante da OAB no evento, Hélio Leitão Neto, destacou o crescimento de células nazistas no país. “Nossa preocupação não se restringe apenas ao povo judeu, mas também à população negra, nordestina, LGBT, feminina, entre outras”, pontuou, comentando que é essencial a realização de eventos educativos como a palestra desta terça-feira para que as pessoas não se esqueçam de atrocidades cometidas no passado.
Exposição fotográfica
A palestra desta terça-feira, promovida pelo MPCE, por meio do Departamento de Memória Institucional e Cultura da Secretaria de Comunicação (Secom), faz parte da programação da Exposição Fotográfica ‘Do Holocausto à Libertação’, em cartaz no Espaço Cultural do MPCE até o fim do mês de outubro. A mostra retrata os horrores do Holocausto, período que marcou a história da humanidade durante a Segunda Guerra Mundial.
Serviço:
Exposição Fotográfica “Do Holocausto à Libertação”
Período: até 30 de outubro de 2023
Horário: Segunda a sexta-feira, das 9h às 16h
Local: Espaço Cultural do MPCE (Av. Gen. Afonso Albuquerque Lima, 130 Bairro Cambeba, Fortaleza)
Entrada Gratuita
Recomendação etária: 14 anos
Aberto ao público
Para agendar visitas em grupos, preencha o formulário disponível no link: https://shorturl.at/EINU2