A experiência inglesa “Planejamento de Segurança em Prevenção de Suicídios” (Safety Planning for Suicide Prevention) foi apresentada nesta quarta-feira (23/08), em Fortaleza, durante evento híbrido promovido pelo Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), através do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (Ceaf), do programa Vidas Preservadas e do Centro de Apoio Operacional da Saúde (Caosaúde), com o apoio da Escola Superior do Ministério Público (ESMP). O programa, com diretrizes para uma intervenção rápida, simples e eficiente no momento de crise, foi exposto pela profissional em Terapia Ocupacional, Jane Boland.
Estiveram presentes na atividade a coordenadora do Vidas Preservadas e do Caosaúde, promotora de Justiça Karine Leopércio; a coordenadora auxiliar do Caosaúde, procuradora de Justiça Isabel Maria Salustiano Arruda Pôrto; a coordenadora do Ceaf, promotora de Justiça Luciana Frota; integrantes do Corpo de Bombeiros do Ceará, da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), de instituições de saúde e assistência social, além de membros, servidores e colaboradores do MPCE.
Para a promotora de Justiça Karine Leopércio, é fundamental que as instituições discutam o tema de forma transparente e aberta. No MPCE, isso é feito através do programa Vidas Preservadas, que busca fortalecer e legitimar iniciativas para prevenção, intervenção e posvenção do suicídio. “Estamos completando cinco anos, um momento de muita reflexão sobre o que avançamos e sobre quais são nossos maiores desafios. Percebemos que a prestação de serviços ainda enfrenta muitas dificuldades, pois depende de um trabalho especializado. Por isso é importante conhecer e debater a experiência do Reino Unido, de modo a refletir sobre as políticas públicas executadas aqui no Ceará e sobre as iniciativas locais de autocuidado, proteção e segurança”, destacou a promotora.
No Reino Unido, o método preventivo é desenvolvido pela instituição de caridade James’ Place, criada em 2018 pela família de um jovem inglês que, em 2008, buscou ajuda em um momento de crise, não foi atendido da maneira devida e consumou suicídio dois dias depois. O caso colocou em evidência algo importante: os sinais que antecedem o suicídio podem ser identificados pelo próprio sujeito da ação e enfrentados – em um primeiro momento – por ele próprio, com apoio que inclui uma série de estratégias de proteção e segurança. Algumas dessas medidas são a realização de terapias comunicativas e amigáveis durante a crise; Estratégia Suicídio Zero, uma abordagem com passos simples que direcionam para evitar o suicídio; e a elaboração de um Plano de Segurança (Safety Planning), para ser utilizado pela própria pessoa no momento em que são identificados os primeiros sinais e gatilhos da crise.
De acordo com Jane Boland, o plano é como uma carta pensada em um momento de bem-estar para ser utilizada em uma situação crítica. “São diretrizes que vão ajudar e passar a perspectiva de que a pessoa já passou por isso e vai resolver, ajudando a ter autocontrole sobre seus sentimentos e pensamentos. Há evidências de que os passos reduzem os riscos e danos e de que a pessoa fica mais fortalecida com o plano”, esclareceu Boland, que atua que atua na avaliação e tratamento de transtornos mentais do National Health Service (Serviço de Saúde Nacional) do Reino Unido.
Além de objetivo e simples, o plano orienta sobre o que deve ser feito em seis situações básicas: identificar os primeiros sinais e gatilhos; manter o autocontrole e autogestão das emoções e buscar medidas de relaxamento; ir para locais onde seja possível se distrair; falar com alguém; buscar rede profissional de atendimento; e ficar em um local seguro, acompanhado. As definições sobre essas estratégias são feitas pela própria pessoa e devem estar expostas de forma simples e objetiva, para facilitar a compreensão no momento de crise.
No James’ Place, a estratégia faz parte de um programa maior, que já tratou 1.500 homens desde 2018, realizando mais de 7.500 sessões de terapia realizadas em Liverpool e em Londres. Quando necessário, a instituição encaminha o usuário para o NHS, mas a finalidade é, de forma rápida e simples, impedir que homens morram por suicídio, administrado as atividades em um ambiente seguro, amigável e não clínico, mas com terapeutas profissionais treinados.
Os responsáveis pela tradução da palestra e mediação da sessão de debates foram a oficiala de Justiça do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE) e integrante da comissão Corrente da Vida do Sindicato dos Oficiais de Justiça do Ceará (Sindojus-CE), Carla Maria Barreto; e o tenente-coronel do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE) e mestre em Saúde Pública da Universidade Federal do Ceará (UFC), Edir Paixão. Houve também tradução para a Língua Brasileira dos Sinais (Libras).